Mensagens Escolhidas 1

150/230

Cristo não parlamentou com a tentação

Jesus não condescendeu com explicar a Seu inimigo como era Ele o Filho de Deus, e de que modo, como tal, devia agir. De modo ofensivo, sarcástico, Satanás referiu-se à presente fraqueza e aspecto desfavorável de Cristo em contraste com sua própria força e glória. Insultou a Cristo dizendo ser Ele um pobre representante dos anjos, quanto mais de seu exaltado Comandante, o reconhecido Rei das cortes reais. Seu aspecto presente indicava estar Ele abandonado de Deus e dos homens. Disse que, se era Cristo de fato o Filho de Deus, o Rei do Céu, teria poder igual a Deus, e poderia dar-lhe prova disso, operando o milagre de transformar em pão a pedra que se achava a Seus pés, aliviando assim a Sua fome. Satanás prometeu que, se Cristo isso fizesse, ele desde logo cederia suas pretensões a superioridade, e que a contenda entre ele e Cristo ali mesmo estaria para sempre terminada. ME1 275.3

Cristo parecia não notar os afrontosos insultos de Satanás. Não Se deixou provocar a dar-lhe provas de Seu poder. Suportou mansamente os seus insultos, sem revidar. As palavras pronunciadas do Céu quando de Seu batismo eram-Lhe muito preciosas, mostrando-Lhe que Seu Pai aprovava os passos que dava no plano da salvação, como substituto e penhor do homem. Os céus abertos e a descida da pomba celeste, eram certeza de que Seu Pai uniria Seu poder, no Céu, ao de Seu Filho na Terra, para salvar o homem do controle de Satanás, e que Deus aceitara os esforços de Cristo para unir a Terra ao Céu, e ao infinito o homem finito. ME1 276.1

Esses sinais, recebidos de Seu Pai, foram muito preciosos ao Filho de Deus, através de todos os Seus cruéis sofrimentos e terrível conflito com o líder rebelde. E enquanto suportava a prova de Deus no deserto, e através de todo o Seu ministério, Ele nada tinha que fazer para convencer a Satanás de Seu poder, e de ser Ele o Salvador do mundo. Tinha Satanás provas bastantes de Sua situação exaltada. Sua indisposição de atribuir a Jesus a honra que lhe era devida, e manifestar-Lhe submissão como súdito, desenvolveu-se em rebelião contra Deus e excluiu-O do Céu. ME1 276.2

Não fazia parte da missão de Cristo exercer Seu poder divino em Seu próprio benefício, livrando-Se do sofrimento. Este Ele Se dispôs voluntariamente a tomar sobre Si. Condescendera com tomar a natureza do homem, e devia sofrer os inconvenientes, e doenças e aflições da família humana. Não devia operar milagres por Sua própria conta. Veio para salvar outros. O objetivo de Sua missão era trazer bênçãos, e esperança e vida aos aflitos e opressos. Devia levar as cargas e penas da humanidade sofredora. ME1 276.3

Embora sofresse Cristo as mais pungentes ânsias da fome, resistiu às tentações. Repeliu Satanás com textos, os mesmos que Ele dera a Moisés no deserto, para declarar ao rebelde Israel quando foi restrito o seu regime alimentar, e clamavam por alimentos cárneos: “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.” Mateus 4:4. Nesta declaração, bem como por Seu exemplo, Cristo queria mostrar ao homem que a fome do alimento temporal não é a maior calamidade que lhe possa sobrevir. Satanás iludiu nossos primeiros pais, dizendo que o comer do fruto da árvore da vida* da qual Deus lhes proibira comer, lhes concederia grande bem, pondo-os a salvo da morte — exatamente o oposto da verdade que Deus lhes declarara: “Mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás.” Gênesis 2:17. Se Adão tivesse sido obediente, jamais teria conhecido necessidade, tristeza ou morte. ME1 277.1

Se o povo que viveu antes do dilúvio tivesse sido obediente à Palavra de Deus, teriam sido preservados, e não teriam perecido pelas águas do dilúvio. Se os israelitas tivessem sido obedientes às palavras de Deus Ele lhes teria concedido bênçãos especiais. Caíram, porém, em resultado da condescendência com o apetite e a paixão. Não quiseram ser obedientes às palavras de Deus. A condescendência com o apetite pervertido levou-os a numerosos e graves pecados. Se tivessem feito das reivindicações de Deus sua primeira consideração, e posto suas necessidades físicas em segundo lugar, submetendo-se à escolha divina do devido alimento para eles, nem um deles teria caído no deserto. Ter-se-iam estabelecido na boa terra de Canaã como povo santo e sadio, sem nenhum fraco em todas as suas tribos. ME1 277.2

O Salvador do mundo tornou-Se pecado pela raça humana. Tornando-Se substituto do homem, não manifestou Cristo Seu poder como Filho de Deus. Classificou-Se entre os filhos dos homens. Devia como homem suportar a prova da tentação, em favor do homem, sob as circunstâncias mais probantes, e deixar um exemplo de fé e perfeita confiança em Seu Pai celestial. Cristo sabia que Seu Pai Lhe supriria alimento, quando houvesse por bem. Nessa severíssima prova, quando a fome O oprimiu além de toda a medida, Cristo não diminuiria prematuramente uma partícula que fosse, da prova por que passava, exercendo Seu poder divino. ME1 278.1

O homem caído, quando levado a apuros, não teria o poder de operar milagres em seu benefício, a fim de poupar-se dor ou angústia, ou para alcançar vitória sobre os inimigos. Foi propósito de Deus pôr à prova a raça humana e dar-lhe oportunidade de desenvolver o caráter levando-os freqüentemente a situações probantes, a fim de lhes provar a fé e confiança em Seu amor e poder. A vida de Cristo foi um modelo perfeito. Ele sempre, por exemplo e preceito, ensinava ao homem que Deus é sua dependência, e que em Deus deve estar sua fé e firme confiança. ME1 278.2

Cristo sabia que Satanás era mentiroso desde o princípio, e precisou de grande domínio próprio para ouvir as proposições daquele enganador insultante, sem repreender imediatamente suas atrevidas afirmações. Esperava Satanás provocar o Filho de Deus, levando-O a empenhar-Se em controvérsia com ele; e esperava que, assim, em Sua fraqueza extrema e agonia de espírito, alcançasse vantagem sobre Ele. Pretendia perverter as palavras de Cristo e reclamar vantagem, chamando a seu auxílio seus anjos caídos a fim de empregarem o máximo de seu poder para prevalecer contra Ele e vencê-Lo. ME1 278.3

O Salvador do mundo não teve controvérsia com Satanás, que fora expulso do Céu porque não mais era digno de um lugar ali. Aquele que pôde influenciar os anjos de Deus contra seu Supremo Soberano, e contra o Filho, seu amado Comandante, e atrair a simpatia desses anjos, era capaz de qualquer engano. Quatro mil anos estivera a guerrear contra o governo de Deus, e não perdera nada de sua habilidade ou poder para tentar e enganar. ME1 279.1